sexta-feira, 23 de agosto de 2013

A Doutrina da Eleição


A eleição se refere ao decreto divino de escolher, dentre a humanidade condenada, certos indivíduos para serem beneficiários do Dom gratuito da salvação. Deus fez isso sem referência aos méritos, ao estado da vontade, ou a fé prevista dos eleitos. Essa doutrina faz parte do esquema agostiniano que inclui os seguintes pontos:

  1. Que a glória de Deus é o fim supremo e último de todas as coisas.
  2. Para esse fim Ele propôs a criação do universo e todo o plano da providência e da redenção.
  3. Que Ele pôs o homem em estado de provação, fazendo de Adão, seu primeiro pai, o cabeça e representante.
  4. Que a queda de Adão conduziu toda a sua posteridade a um estado de condenação, pecado e miséria, do qual ela é incapaz de livrar-se.
  5. Da massa de homens caídos, Deus elegeu um incontável número para a vida eterna, e deixou o restante do gênero humano entregue à justa recompensa de seus pecados.
  6. A base dessa eleição não é a provisão de algo nos escolhidos, mas o beneplácito de Deus.
  7. Que Deus, para a salvação dos escolhidos, deu seu Filho Unigênito, para satisfação pelo pecado introduzindo a justiça eterna e assegurando definitiva e absolutamente a salvação dos eleitos.
  8. Que embora o Espírito Santo, em suas operações comuns, esteja operando na vida de cada pessoa, reprimindo o mal e induzindo ao bem, seu poder certamente eficaz e salvador é exercido exclusivamente a favor dos eleitos.
  9. Que todo aquele a quem Deus tem escolhido para a vida, e pelos quais Cristo se entregou a si mesmo, serão certamente levados ao conhecimento da verdade, ao exercício da fé e à perseverança na santidade até o fim.
Importância da Eleição: A eleição é como uma luz que ilumina o significado da palavra “graça”. Sem ela, a graça é entendida como a recompensa por alguma atividade ou disposição humana, e não como a causa dessa disposição. Se a definição correta da palavra “graça” é “um favor imerecido”, então, a graça tem que ser independente de qualquer atividade humana. Quando aceitamos esse conceito, entendemos porque a graça e a eleição são inseparáveis. Não é lógico proclamar a doutrina da salvação pela graça enquanto negamos que a eleição o seja. Paulo expressou isso nas seguintes palavras: Assim pois também agora, no tempo de hoje sobrevive um remanescente segundo a eleição da graça”. (Rm 11.5).

A Bíblia Fala de Diferentes Tipos de Eleição

Eleição para serviço ou testemunhoDeus elege certas pessoas ou nação, como no caso de Israel, para serem suas testemunhas diante dos homens dando a eles oportunidade de conhecer ao Senhor e serem nele abençoados. No caso de Abraão, e sua posteridade, há pelo menos três razões para essa escolha. (1) Manter acessa uma luz de conhecimento do verdadeiro Deus no mundo. Se não fora Israel esse conhecimento teria desaparecido da terra. (2) Deus queria se revelar ao mundo por meio de Israel. Esse povo foi o depositário dos “oráculos de Deus” (Rm 3.1,2). (3) Deus quis por meio deles enviar o Salvador ao mundo. “A salvação vem dos judeus”, disse Jesus (Jo 4.22).

Eleição de nações e comunidades para o conhecimento e para os privilégios do evangelho: Esse tipo de eleição tem sido chamado de “Eleição Nacional”. Tal eleição pode ser exemplificada na nação judaica, no passado, e em certas nações europeias, assim como na América. É inegável que Deus concedeu privilégios a Israel, que não concedeu a nenhuma outra nação no passado, bem como é inegável que Deus, durante a dispensação da graça tem, dado oportunidades a certas nações que recusou a outras. Quando o Espírito Santo impediu Paulo de anunciar o evangelho na Ásia e teve a visão de um homem da Europa, uma parte do mundo foi soberanamente excluída do anúncio do evangelho, e outra parte soberanamente foi dada os privilégios do evangelho (At 16.6-10). Samuel Falcão em seu livro “Predestinação”, citando o Dr. Boettner, escreve: “A disparidade relativamente aos privilégios espirituais nas diferentes nações só se deve atribuir ao beneplácito de Deus”.

Eleição para serviço no sentido mais geral: Há certas pessoas a quem Deus dá talentos especiais e coloca em posições de grandes responsabilidade. Por exemplo, os magistrados (Rm 13.1-7), de acordo com Paulo eles são eleitos por Deus para exercerem autoridade no interesse coletivo. Deus tem um plano para cada ser humano e de acordo com este plano ele dá talentos especiais ou inclinações, que os capacitam para sua vocação especial. Todavia ninguém pode reclamar com Deus, como escreve Paulo: “Quem és tu ó homem ,para discutires com Deus? Porventura pode o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim?” (Rm 9.20).

Eleição para a salvação: Essa é a mais importante de todas. Ela é ensinada tanto no Velho como no Novo Testamento. Nesse caso pode-se dizer que a eleição é o propósito de Deus, de salvar certos membros da raça humana, em Jesus Cristo e por meio de Jesus Cristo.

As Características da Eleição

É uma expressão da vontade soberana de Deus, do beneplácito divino: Isso exclui a ideia de que a eleição é determinada por alguma coisa existente no homem, como a fé ou as boas obras previstas.
  • pois não tendo os gêmeos ainda nascido, nem tendo praticado bem ou mal, para que o propósito de Deus segundo a eleição permanecesse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama” (Rm 9.11).
É imutável, e portanto, torna segura e certa a salvação dos eleitos: Pela obra salvadora em Jesus Cristo, Deus executa o decreto da eleição com a sua própria eficiência. Como é de seu propósito que certos indivíduos creiam e perseverem até o fim, Deus mesmo assegura esse resultado pela obra objetiva de Cristo e pelas operações subjetivas do Espírito Santo.
  • Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos; e aos que predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a estes também justificou; e aos que justificou, a estes também glorificou” (Rm 8.29,30).
  • Todavia o firme fundamento de Deus permanece, tendo este selo: O Senhor conhece os seus, e: Aparte-se da injustiça todo aquele que profere o nome do Senhor” (2 Tm 2.19).
É eterna: “Assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo (Ef 1.4). Outras referências tais como Mt 25.34; Rm 8.29; Ef 1.5,9; 2 Tm 1.9; Ap 13.8, ensinam explicitamente que a eleição não ocorre no tempo, mas na eternidade. A eleição jamais deve ser identificada com alguma seleção temporal, mas, antes, deve ser considerada eterna.

A eleição é incondicional: O ponto de vista que a eleição teve lugar na eternidade, mas que foi tendo em vista o arrependimento previsto e fé carece de apoio das Escrituras. De acordo com esse ponto de vista, Deus, na eternidade, olhou através dos séculos e viu quem ia se arrepender e crer, e esses que Ele viu de antemão foram eleitos para a salvação. Esse ponto de vista está correto só em um ponto, que é: a eleição teve lugar na eternidade. Mas está errado quando faz a base da eleição ser algo no pecador, em vez de alguma coisa em Deus. Leia Efésios 1.4-6, onde diz que a eleição e predestinação são “segundo o beneplácito de Sua vontade” e “para louvor e glória de Sua graça”. Desde que os homens são todos pecadores e perderam o direito às bênçãos de Deus, não há base para esta distinção neles. Tanto a fé como as boas obras na vida do crente, são frutos da graça de Deus.
  • pois não tendo os gêmeos ainda nascido, nem tendo praticado bem ou mal, para que o propósito de Deus segundo a eleição permanecesse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama” (Rm 9.11).
  • Os gentios, ouvindo isto, alegravam-se e glorificavam a palavra do Senhor; e creram todos quantos haviam sido destinados para a vida eterna” (At 13.48).
    É irresistível: Sobre esse ponto fica mais claro falar sobre o que não estamos dizendo. A eleição é irresistível em que sentido?
    1. Não significa que o homem não possa opor-se à sua execução até certo ponto. Os que se dizem salvos hoje, não aceitaram o Evangelho no primeiro apelo que lhe fizeram, resistiram por um certo ponto.
    2. Não significa que Deus na execução de seu decreto, subjuga a vontade humana de tal modo que este indivíduo não saiba da decisão que está tomando. Os salvos resistiram até certo ponto, mas houve um momento em que sentiram como Daniel, “tocados pela mão de Deus”.
    3. Significa sim que por mais que o homem resista, sua oposição não prevalecerá contra o propósito de Deus.
    4. Também significa, que Deus exerce e exercerá tal influência sobre o espírito humano, que o levará a querer o que Deus quer. Isso está de acordo com as Escrituras a abaixo.
  • teu povo apresentar-se-á voluntariamente no dia do teu poder, em trajes santos; como vindo do próprio seio da alva, será o orvalho da tua mocidade” (Sl 110.3).
  • Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade” (Fp 2.13).
A eleição não merece a acusação de injustiça: Essa é uma das objeções mais comum nessa doutrina. Mas o fato de Deus escolher alguns e os demais serem deixados em seu pecado, agindo para sua própria e justa condenação, não pode ser considerado injustiça por parte de Deus. Só podemos falar de injustiça quando uma parte pode reivindicar algo de outra. Os pecadores não têm direito a salvação e ao perdão de Deus. A humanidade herda o pecado de Adão e consequentemente perdeu o direito às bênçãos de Deus. Já que a humanidade não tem direito a salvação, mas a morte, Deus não tem a obrigação de salvar o ser humano. Então, o que os pecadores podem exigir de Deus? Nada. Se Deus devesse salvação e perdão ao pecador, seria injustiça Deus salvar apenas alguns. Portanto, salvação não é questão de justiça, mas de misericórdia. E, exatamente isso que a Bíblia diz. Veja: Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum. Porque diz a Moisés: Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia, e terei compaixão de quem me aprouver ter compaixão. Assim, pois, isto não depende do que quernem do que corremas de Deus que usa de misericórdia (Rm 9.14-16).

O Propósito da EleiçãoExiste um duplo propósito na eleição.
O propósito próximo é a salvação dos eleitos: A Bíblia ensina que o homem é escolhido, ou eleito para a salvação.
  • Que diremos pois? O que Israel busca, isso não o alcançou; mas os eleitos alcançaram; e os outros foram endurecidos, como está escrito: Deus lhes deu um espírito entorpecido, olhos para não verem, e ouvidos para não ouvirem, até o dia de hoje. E Davi diz: Torne-se-lhes a sua mesa em laço, e em armadilha, e em tropeço, e em retribuição; escureçam-se-lhes os olhos para não verem, e tu encurva-lhes sempre as costas. Logo, pergunto: Porventura tropeçaram de modo que caíssem? De maneira nenhuma, antes pelo seu tropeço veio a salvação aos gentios, para os incitar à emulação” (Rm 11.6-11).
  • Mas nós devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos, amados do Senhor, porque Deus vos escolheu desde o princípio para a santificação do espírito e a fé na verdade” (2 Ts 2.13).
O objetivo final é a glória de Deus: Tudo o que Deus faz, ele o faz para a sua glória.

 “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestes em Cristo; como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele em amor; e nos predestinou para sermos filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade, para o louvor da glória da sua graça, a qual nos deu gratuitamente no Amado” (Ef 1.3-6).

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