O que queremos dizer com ordem da salvação? Quando falamos de uma ordem da salvação, não estamos dizendo que a ação de aplicar a graça de Deus ao pecador não seja um processo individual, mas simplesmente estamos dizendo que é possível distinguir vários movimentos no processo de aplicação da redenção, e de que esse processo segue uma ordem definida razoável.
A Bíblia indica uma ordem definida da salvação? Não, ela não nos dá uma ordem da salvação completa, mas oferece-nos uma base suficiente para a referida ordem. Ela nos dá duas coisas que nos ajudam a elaborar essa ordem:
- Dá-nos uma completa e rica enumeração das operações do Espírito Santo na aplicação da obra realizada por Cristo.
- Ela indica em muitas passagens e de muitas maneiras, a relação que os diferentes movimentos atuantes na obra de redenção mantêm uns com os outros.
As igrejas não estão todas em acordo quanto a ordem da salvação. A doutrina da ordem da salvação é fruto da Reforma. Não se achará nas obras dos escolásticos, por exemplo, algo que lhe assemelhe. Calvino foi o primeiro a agrupar as várias partes da ordem da salvação de maneira sistemática.
Diferentes Conceitos Sobre a Ordem da Salvação
O Conceito Calvinista: Na soteriologia calvinista o ponto de partida é a união estabelecida na aliança da redenção entre Cristo e aqueles que o Pai lhe deu. Assim eles principiam com a regeneração, mostrando que a aplicação da obra de redenção é uma obra de Deus. Em seguida discutem a conversão. A conversão por sua vez inclui o arrependimento e a fé. A fé por sua vez leva naturalmente à justificação, visto que essa nos é mediada pela fé. E por que a justificação coloca o homem numa nova relação com Deus, impondo ao homem uma nova obediência e também lhe dando a capacidade para obedecer, a próxima obra será a da santificação. Terminando com a perseverança dos santos e a sua glorificação. Em resumo a ordem da salvação no conceito calvinista é:
- Eleição (a escolha das pessoas a serem salvas por Deus)
- Chamado do evangelho (a proclamação da mensagem do evangelho)
- Regeneração (o ser nascido de novo)
- Conversão (fé e arrependimento)
- Justificação (o direito legal de estar diante de Deus)
- Adoção (a filiação na família de Deus)
- Santificação (a conduta correta na vida)
- Perseverança (o permanecer cristão)
- Morte (partir para estar com o Senhor)
- Glorificação (a ressurreição do corpo)
O Conceito Luterano. Os luteranos colocam a principal ênfase em sua ordem de salvação, naquilo que é feito pelo homem, antes daquilo que é feito por Deus. Eles veem a fé como um dom de Deus, mas, ao mesmo tempo, fazem da fé uma atividade humana, por isso a fé é o fator determinante em sua ordem de salvação. Depois da fé, virá o arrependimento, seguido da regeneração, pela qual o Espírito Santo dá ao pecador a graça salvadora. A vocação (a chamada), a iluminação, o arrependimento e a regeneração, são apenas preparatórios para receber as bênçãos da graça. O homem pode ter essas experiências independente de sua relação com Cristo, e elas servem apenas para levar o pecador a Cristo. Tudo depende da conduta do pecador em receber ou não a regeneração. Se o homem aceitar a regeneração, segue-se uma fé salvadora, seguida da justificação, a qual o pecador é adotado como filho de Deus, unido a Cristo, recebe o espírito de renovação e santificação, que é o princípio vivificante de uma vida de obediência. A posse permanente das bênçãos depende da continuidade da fé. A perseverança do crente é que lhe garantirá a salvação. Se ele deixar de crer, há uma possibilidade de perder tudo o que possui. A ordem de salvação é:
- Fé
- Arrependimento
- Regeneração
- Justificação
- Santificação
- Perseverança (depende da continuidade da fé)
- Glorificação
O Conceito Católico Romano. A doutrina da igreja, vem primeiro que a doutrina da salvação. As crianças são regeneradas pelo batismo. Aqueles que conhecem o evangelho mais tarde, recebem a “graça suficiente”, que é uma iluminação da mente e um fortalecimento da vontade. O homem pode resistir ou não a essa graça. Se lhe der assentimento, ela se transforma em “graça cooperante”, sob a qual o homem coopera para a sua justificação. Essa preparação para a justificação tem sete partes: aceitação da Palavra de Deus, reconhecimento da condição de pecador, esperança na misericórdia divina, o amor de Deus, aversão pelo pecado, resolução em obedecer os mandamentos de Deus, e desejo de ser batizado. A fé nesse esquema é apenas um simples elemento de coordenação com os outros preparativos. Após essa preparação, vem a justificação, seguida do batismo, que é a infusão da graça, das virtudes sobrenaturais, seguida do perdão dos pecados. O dom da justificação é preservado pela obediência aos mandamentos e pela prática das boas obras, quando alguém é obediente aos mandamentos e pratica boas obras se torna merecedor de toda graça e finalmente a vida eterna. Aqui a graça de Deus, atende ao propósito de tornar o homem capacitado para a salvação. Mas não há certeza que o homem poderá ter o perdão dos pecados. A justificação pode ser perdida, mas poderá ser recuperada pelo sacramento da penitência, que remove a culpa do pecado pela absolvição sacerdotal, e cancela as penalidades temporais. Nesse caso a ordem é confusa, mas pode ser:
- Batismo (para as crianças). Graça suficiente (para os demais)
- Graça cooperante (os atos de assentimentos)
- Justificação
- Batismo (os que foram iluminados na idade adulta)
- Perdão dos pecados
- Perseverança (depende da obediência e do sacramento da penitência)
- Glorificação
O Conceito Arminiano: Embora os arminianos atribuem a obra da salvação a Deus, eles a torna dependente da atitude e da obra do homem. Deus abre a possibilidade para o homem ser salvo, mas cabe ao homem aproveitar a oportunidade. Eles negam a doutrina da depravação total e crê que embora a natureza humana esteja prejudicada e deteriorada como resultado da Queda, o homem, mesmo assim, pode fazer aquilo que é espiritualmente bom e se converter a Deus. Deus infunde a todos os homens a assistência de sua graça, capacitando-os, se quiserem a aceitar as bênçãos espirituais, e por último a salvação. Se o homem render a essa graça, converter-se-ão a Cristo com arrependimento e fé. Vindo então a serem justificados (que no conceito arminiano significa simplesmente ter o perdão dos pecados). Uma vez justificados, a fé gera neles a regeneração. Vindo então a obediência evangélica (santificação), e essa, se deixada em ação através da vida, vai dar na graça da perseverança. A ordem da salvação aqui é a seguinte:
- Graça preveniente (divina graça que precede a decisão humana)
- Fé
- Conversão
- Arrependimento
- Regeneração
- Justificação (perdão dos pecados)
- Santificação (obediência evangélica)
- Perseverança (depende da obediência)
- Glorificação
O Conceito do Arminianismo Wesleyano ou Evangélico: Admite que a culpa do pecado é imputada a todos os descendentes de Adão. Mas por causa da justiça de Cristo, que é concedida a todos os homens, essa culpa é retirada imediatamente, em seu nascimento, visto que há uma aplicação universal da obra de Cristo mediante o Espírito Santo, pela qual o pecador é habilitado a cooperar com a graça de Deus. Ensina que essa graça é necessária para efetuar a renovação e a santificação do pecador. Ensina ainda a doutrina da perfeição cristã ou da santificação completa na presente existência. Esse é o tipo de arminianismo mais comum em nossos dias. A ordem da salvação não muda em relação ao arminianismo do século XVII.
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