sexta-feira, 23 de agosto de 2013

A Ordem da Salvação

O que queremos dizer com ordem da salvação? Quando falamos de uma ordem da salvação, não estamos dizendo que a ação de aplicar a graça de Deus ao pecador não seja um processo individual, mas simplesmente estamos dizendo que é possível distinguir vários movimentos no processo de aplicação da redenção, e de que esse processo segue uma ordem definida razoável.

A Bíblia indica uma ordem definida da salvação? Não, ela não nos dá uma ordem da salvação completa, mas oferece-nos uma base suficiente para a referida ordem. Ela nos dá duas coisas que nos ajudam a elaborar essa ordem:
  1. Dá-nos uma completa e rica enumeração das operações do Espírito Santo na aplicação da obra realizada por Cristo.
  2. Ela indica em muitas passagens e de muitas maneiras, a relação que os diferentes movimentos atuantes na obra de redenção mantêm uns com os outros.
As igrejas não estão todas em acordo quanto a ordem da salvação. A doutrina da ordem da salvação é fruto da Reforma. Não se achará nas obras dos escolásticos, por exemplo, algo que lhe assemelhe. Calvino foi o primeiro a agrupar as várias partes da ordem da salvação de maneira sistemática.

Diferentes Conceitos Sobre a Ordem da Salvação

O Conceito Calvinista: Na soteriologia calvinista o ponto de partida é a união estabelecida na aliança da redenção entre Cristo e aqueles que o Pai lhe deu. Assim eles principiam com a regeneração, mostrando que a aplicação da obra de redenção é uma obra de Deus. Em seguida discutem a conversão. A conversão por sua vez inclui o arrependimento e a fé. A fé por sua vez leva naturalmente à justificação, visto que essa nos é mediada pela fé. E por que a justificação coloca o homem numa nova relação com Deus, impondo ao homem uma nova obediência e também lhe dando a capacidade para obedecer, a próxima obra será a da santificação. Terminando com a perseverança dos santos e a sua glorificação. Em resumo a ordem da salvação no conceito calvinista é:
  1. Eleição (a escolha das pessoas a serem salvas por Deus)
  2. Chamado do evangelho (a proclamação da mensagem do evangelho)
  3. Regeneração (o ser nascido de novo)
  4. Conversão (fé e arrependimento)
  5. Justificação (o direito legal de estar diante de Deus)
  6. Adoção (a filiação na família de Deus)
  7. Santificação (a conduta correta na vida)
  8. Perseverança (o permanecer cristão)
  9. Morte (partir para estar com o Senhor)
  10. Glorificação (a ressurreição do corpo)
Conceito Luterano. Os luteranos colocam a principal ênfase em sua ordem de salvação, naquilo que é feito pelo homem, antes daquilo que é feito por Deus. Eles veem a fé como um dom de Deus, mas, ao mesmo tempo, fazem da fé uma atividade humana, por isso a fé é o fator determinante em sua ordem de salvação. Depois da fé, virá o arrependimento, seguido da regeneração, pela qual o Espírito Santo dá ao pecador a graça salvadora. A vocação (a chamada), a iluminação, o arrependimento e a regeneração, são apenas preparatórios para receber as bênçãos da graça. O homem pode ter essas experiências independente de sua relação com Cristo, e elas servem apenas para levar o pecador a Cristo. Tudo depende da conduta do pecador em receber ou não a regeneração. Se o homem aceitar a regeneração, segue-se uma fé salvadora, seguida da justificação, a qual o pecador é adotado como filho de Deus, unido a Cristo, recebe o espírito de renovação e santificação, que é o princípio vivificante de uma vida de obediência. A posse permanente das bênçãos depende da continuidade da fé. A perseverança do crente é que lhe garantirá a salvação. Se ele deixar de crer, há uma possibilidade de perder tudo o que possui. A ordem de salvação é:
  1. Arrependimento
  2. Regeneração
  3. Justificação
  4. Santificação
  5. Perseverança (depende da continuidade da fé)
  6. Glorificação
O Conceito Católico Romano. A doutrina da igreja, vem primeiro que a doutrina da salvação. As crianças são regeneradas pelo batismo. Aqueles que conhecem o evangelho mais tarde, recebem a “graça suficiente”, que é uma iluminação da mente e um fortalecimento da vontade. O homem pode resistir ou não a essa graça. Se lhe der assentimento, ela se transforma em “graça cooperante”, sob a qual o homem coopera para a sua justificação. Essa preparação para a justificação tem sete partes: aceitação da Palavra de Deus, reconhecimento da condição de pecador, esperança na misericórdia divina, o amor de Deus, aversão pelo pecado, resolução em obedecer os mandamentos de Deus, e desejo de ser batizado. A fé nesse esquema é apenas um simples elemento de coordenação com os outros preparativos. Após essa preparação, vem a justificação, seguida do batismo, que é a infusão da graça, das virtudes sobrenaturais, seguida do perdão dos pecados. O dom da justificação é preservado pela obediência aos mandamentos e pela prática das boas obras, quando alguém é obediente aos mandamentos e pratica boas obras se torna merecedor de toda graça e finalmente a vida eterna. Aqui a graça de Deus, atende ao propósito de tornar o homem capacitado para a salvação. Mas não há certeza que o homem poderá ter o perdão dos pecados. A justificação pode ser perdida, mas poderá ser recuperada pelo sacramento da penitência, que remove a culpa do pecado pela absolvição sacerdotal, e cancela as penalidades temporais. Nesse caso a ordem é confusa, mas pode ser:
  1. Batismo (para as crianças). Graça suficiente (para os demais)
  2. Graça cooperante (os atos de assentimentos)
  3. Justificação
  4. Batismo (os que foram iluminados na idade adulta)
  5. Perdão dos pecados
  6. Perseverança (depende da obediência e do sacramento da penitência)
  7. Glorificação
O Conceito Arminiano: Embora os arminianos atribuem a obra da salvação a Deus, eles a torna dependente da atitude e da obra do homem. Deus abre a possibilidade para o homem ser salvo, mas cabe ao homem aproveitar a oportunidade. Eles negam a doutrina da depravação total e crê que embora a natureza humana esteja prejudicada e deteriorada como resultado da Queda, o homem, mesmo assim, pode fazer aquilo que é espiritualmente bom e se converter a Deus. Deus infunde a todos os homens a assistência de sua graça, capacitando-os, se quiserem a aceitar as bênçãos espirituais, e por último a salvação. Se o homem render a essa graça, converter-se-ão a Cristo com arrependimento e fé. Vindo então a serem justificados (que no conceito arminiano significa simplesmente ter o perdão dos pecados). Uma vez justificados, a fé gera neles a regeneração. Vindo então a obediência evangélica (santificação), e essa, se deixada em ação através da vida, vai dar na graça da perseverança. A ordem da salvação aqui é a seguinte:
  1. Graça preveniente (divina graça que precede a decisão humana)
  2. Conversão
  3. Arrependimento
  4. Regeneração
  5. Justificação (perdão dos pecados)
  6. Santificação (obediência evangélica)
  7. Perseverança (depende da obediência)
  8. Glorificação
Conceito do Arminianismo Wesleyano ou Evangélico: Admite que a culpa do pecado é imputada a todos os descendentes de Adão. Mas por causa da justiça de Cristo, que é concedida a todos os homens, essa culpa é retirada imediatamente, em seu nascimento, visto que há uma aplicação universal da obra de Cristo mediante o Espírito Santo, pela qual o pecador é habilitado a cooperar com a graça de Deus. Ensina que essa graça é necessária para efetuar a renovação e a santificação do pecador. Ensina ainda a doutrina da perfeição cristã ou da santificação completa na presente existência. Esse é o tipo de arminianismo mais comum em nossos dias. A ordem da salvação não muda em relação ao arminianismo do século XVII.

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