sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Graça Comum e Eficaz



A teologia reformada não considera a doutrina da graça comum como parte da soteriologia. Mas reconhece a estreita relação que existe entre as operações do Espírito Santo na esfera da criação e Suas operações na esfera da redenção, e portanto não devemos nos dissociar muito desse conceito, para então entendermos outros posteriormente.



Graça Comum: O surgimento dessa doutrina foi ocasionado pelo fato de que há no mundo, um curso de vida natural, não implicando redenção, no obstante, muitos sinais verdadeiros do bem e do belo. Daí surgia algumas questões por exemplo:



Como podemos explicar a vida relativamente ordenada que há no mundo, se sabemos que o mundo inteiro jaz sob a maldição do pecado? Como é que a terra dá frutos preciosos e abundantes, em vez de só produzir espinhos e abrolhos? Como podemos explicar o fato de que o homem pecador conserva um certo conhecimento de Deus, das coisas naturais e da diferença entre o bem e o mal, e ainda demonstra alguma consideração pela virtude e pelo bom comportamento exterior? Que explicação podemos dar dos dons e talentos especiais de que o homem natural é dotado, independente de ter uma nova vida em Cristo Jesus? Como é que os não regenerados ainda podem falar a verdade, fazer o bem aos outros e levar vidas exteriormente virtuosas? Tais questões são respondidas a partir da doutrina da graça comum.



  • Agostinho e Pelágio: Agostinho não ensinou a doutrina da graça comum. Ele falava da graça que Adão desfrutava antes da Queda. Após a Queda salientava a incapacidade total do homem e sua absoluta dependência da graça de Deus, quer operante, quer como cooperante. Considera esta graça como condição necessária para a realização de cada boa ação. Pelágio, dava ênfase à capacidade natural do homem e não reconhecia a necessidade de outra graça que aquela que consiste dos dotes naturais do homem, da lei, do Evangelho, do exemplo de Cristo e da iluminação do entendimento por uma influência de Deus.
  • O conceito na Idade Média: Durante a Idade Média, a antítesede pecado e graça deu lugar à natureza e graça. Com base noutra antítese, a saber, a do natural e do sobrenatural, a teologia católica romana, desempenhou importante papel sobre o tema. No estado original o homem estava revestido de um dom sobrenatural da justiça original, que servia de freio para manter o controle da natureza inferior. Com a Queda o homem perdeu este dom sobrenatural, mas sua verdadeira natureza permaneceu ou foi apenas ligeiramente afetada. Isso fez com que ele desenvolvesse uma inclinação pecaminosa, mas isto não impedia o homem de produzir muita coisa verdadeira, boa e bela. Contudo sem infusão da graça de Deus, isso tudo não era suficiente para garantir a vida eterna. Dessa doutrina desenvolveu no seio da teologia católica romana a distinção entre as virtudes que o homem pode conseguir por seus próprios esforços e as virtudes que o homem só pode conseguir com a oportuna ajuda da graça divina.
  • Posição dos Reformadores: Lutero não descartou todo fermento católico romano em sua teologia. Apesar de ter retornado à antítese agostiniana de pecado e graça, sustentava que o homem decaído é por natureza capaz de fazer muita coisa boa e louvável na esfera terrena, embora seja incapaz de fazer qualquer bem espiritual. Zwínglio, explicava que o que há de bom e belo neste mundo, é consequência da graça santificante. Calvino, sustentava que o homem não pode por si mesmo fazer nenhuma boa obra. Por isso ao lado da graça particular (eficaz, salvadora), ele desenvolveu a doutrina da graça comum. Esta graça, não perdoa, não purifica e não efetua a salvação. Ela reprime o poder destrutivo do pecado, mantêm em certa medida a ordem moral do universo, possibilitando uma vida ordenada, distribui em certos graus dons e talentos, promove o desenvolvimento da ciência e da arte e derrama incontáveis bênçãos sobre os filhos dos homens.

Graça Especial: É a graça salvadora. Existem características nessa graça que a distingue da graça comum. Vejamos:



  • A graça especial é determinada pelo decreto da eleição: Ela se limita aos eleitos. Enquanto que a graça comum é outorgada  a todos os homens.
  • A graça especial remove a culpa e a penalidade do pecado:Isso é, muda a vida interior do homem, redundando na salvação do pecador. Enquanto que a graça comum jamais remove a culpa do pecado.
  • A graça especial é irresistível: “Não significa que seja uma força determinista a compelir o homem a crer contra a sua vontade, mas significa que, pela mudança do coração do homem, torna-o perfeitamente desejosos de aceitar a Jesus Cristo para a salvação e de prestar obediência à vontade de Deus”. Ao passo que a graça comum é resistível, e de fato sofre maior ou menor resistência.
  • A graça especial age de maneira espiritual e recriadora: Ela renova completamente a natureza do homem, e assim, torna-o capaz e desejoso de aceitar a oferta da salvação em Jesus Cristo e de produzir frutos espirituais. A graça comum apela para os desejos naturais do homem, mediante a revelação geral ou especial e mediante a persuasão moral.

Nossa concepção de graça comum aqui, distingue da concepção de graça comum dos arminianos. Cremos que não há significação salvadora nessa graça, ao passo que, eles atribuem significação salvadora. Eles afirmam que, em virtude da graça comum de Deus, o homem não regenerado é perfeitamente capaz de praticar o bem espiritual e em certa medida se converter a Deus com arrependimento e fé, e assim aceitar Jesus para a salvação, a menos que o pecador resista obstinadamente à operação do Espírito Santo. Essa posição foi condenada pelo Sínodo de Dort.

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